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Neste mês, marcado pela campanha Janeiro Verde, dedicada à prevenção ao câncer de colo do útero, um dado alarmante: a taxa de infecção pelo papiloma vírus humano, o HPV, atinge 54,4% das mulheres que já iniciaram a vida sexual. Entre os homens, o índice é de 41,6%. Os números são de uma pesquisa inédita do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS, encomendada pelo Ministério da Saúde.
O percentual assusta justamente porque o HPV, infecção sexualmente transmissível, está associado a mais de 90% dos casos de tumor no colo uterino. Logo a vacinação contra o vírus é a melhor forma de prevenir a neoplasia. Nesse sentido, vale dizer que estamos diante de uma enfermidade que poderia ser erradicada se a população fosse vacinada em massa. O imunizante contra o papiloma vírus humano, inclusive, faz parte do calendário nacional de vacinação do Ministério da Saúde. Antes, apenas adolescentes de 9 a 14 anos podiam se proteger, além de pessoas com HIV/Aids, aquelas que receberam transplante ou pacientes em tratamento oncológico. Em agosto de 2023 as doses foram ampliadas para vítimas de violência sexual e hoje são aplicadas em duas doses para pessoas entre 9 e 14 anos, com intervalo de seis meses entre elas. Já as pessoas vivendo com HIV/Aids, transplante ou tratamento contra o câncer, ou vítimas de violência sexual, recebem o imunizante em três doses, com intervalo de dois meses entre cada aplicação. Nesses casos ele está autorizado para homens e mulheres de 15 a 45 anos.
Apesar de toda a oferta, a cobertura vacinal contra o HPV, infelizmente, está em queda: em 2022, 75% das meninas tomaram a primeira dose e 57% a segunda. O índice foi ainda menor entre os meninos: 52% de cobertura para a primeira dose e 36% na segunda dose. Ainda não há dados disponíveis sobre 2023.
A desinformação envolvendo muitos mitos e fake news (notícias falsas), é a principal barreira para o combate ao HPV no Brasil e, consequentemente, ao câncer do colo do útero. Ainda circulam boatos de que a vacina [do HPV] não é eficaz, o que cria uma resistência de muitas pessoas a procurarem os postos de saúde.
Outro método de prevenção ao tumor é a realização do Papanicolau, recomendado para mulheres de 25 aos 64 anos de idade que já tiveram atividade sexual iniciada. Isso pode incluir homens trans e pessoas não binárias designadas mulheres ao nascer. Devido à longa evolução da doença, o exame pode ser realizado a cada três anos. Porém, para maior segurança do diagnóstico, as duas primeiras avaliações devem ser anuais. Ele [o Papanicolau] é a principal forma de detectar alterações nas células do colo do útero que possam ser um indício da presença de lesões precursoras da neoplasia ou do próprio câncer. O exame, que consiste na coleta de material da região para análise em laboratório, pode ser feito em postos ou unidades de saúde da rede pública e privada que tenham profissionais capacitados. Ao serem examinadas, recomenda-se que as mulheres não estejam menstruadas nem tenham tido relação sexual ou feito uso de duchas e lubrificantes vaginais nas 24 horas anteriores.
Caso o Papanicolau detecte células anormais no colo uterino, é necessário realizar uma biópsia, com a retirada de pequena amostra de tecido para análise no microscópio.
Câncer de colo do útero: fique atenta aos sintomas!
Os principais sintomas do câncer de colo do útero, geralmente incluem sangramento vaginal anormal, dor na região e dispareunia – dor genital que ocorre durante a relação sexual, entre outros. Vale ressaltar, porém, que a enfermidade é silenciosa em seu início e esses sinais aparecem em fases mais avançadas.
Diagnósticos na fase inicial têm quase 100% de chances de cura. Já o tratamento dependerá do estadiamento (estágio de evolução) do tumor e fatores pessoais, como idade da paciente e desejo de ter filhos. Na maioria dos casos, em estágios iniciais, envolve cirurgia, por vezes seguida de tratamento complementar com quimioterapia ou radioterapia. Em cenários de doença avançada, em que há comprometimento dos gânglios linfáticos (linfonodos) da pelve ou de outros órgãos, há uma combinação de quimioterapia e radioterapia ou apenas quimioterapia.
Elisa Fontes, oncologista e Miriam Cristina, ginecologista