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Até 2030, sete em cada 10 brasileiros poderá estar com excesso de peso e mais de um quarto da população com obesidade

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), revelam que 22% da população adulta no Brasil está obesa. E esse percentual deve crescer ainda mais: Isso porque de acordo com um estudo sobre Obesidade e Doenças Crônicas não Transmissíveis, realizado por pesquisadores brasileiros e chilenos, até 2030, sete em cada 10 pessoas do nosso país (68%) poderão estar com excesso de peso e mais de um quarto da população (26%) com obesidade. Os índices, obviamente, são alarmantes, visto que o problema é, atualmente, um dos maiores fatores de risco para quadros graves da Covid-19.

E por falar em pandemia, outros dados – estes do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) – mostram que o período de isolamento social que vivemos nos últimos dois anos, foi fator determinante para a redução da prática de atividades físicas e a manutenção de hábitos alimentares não-saudáveis, o que auxiliou no aumento significativo do índice de obesos em várias capitais do país. Para nível de comparação, em 2020, foram registrados 21,5% dos adultos com obesidade, contra 20,3% em 2019. Manaus (24,9%), Cuiabá (24%) e Rio de Janeiro (23,8%) lideram a incidência de obesidade nas capitais.

A endocrinologista do Hospital Semper, Lívia Pinheiro, explica que a obesidade, ao contrário do que se pensa, não é causada apenas pelo alto consumo de alimentos calóricos e pobres em nutrientes, mas sim por questões multifatoriais. “Estamos falando de uma doença e que, portanto, deve ser tratada como tal. Porém, o que vemos hoje é um certo despreparo de alguns profissionais e muito preconceito em torno do assunto. Isso devido à falsa crença de que o excesso de peso é relacionado somente ao estilo de vida da pessoa”.

Outros fatores que corroboram para essa doença crônica que vem crescendo entre os brasileiros, segundo Pinheiro, são o estresse e, até mesmo, as graves questões sociais que sempre predominaram no país e se acentuaram na pandemia. “Com a alta dos custos de produtos alimentícios, as opções saudáveis, que já são naturalmente mais caras, se tornaram cada vez mais escassas nas residências brasileiras. Portanto, aderir a uma dieta mediterrânea, rica em peixes, legumes frescos e frutos do mar, por exemplo, é extremamente difícil, onerosa. A grande maioria da nossa população quer apenas comer para sobreviver, matar a fome. Poucos são os que têm o privilégio de se alimentar com qualidade, com a quantidade certa de nutrientes, o que acaba influenciando nesse quadro de aumento da obesidade”, enfatiza.

Doenças associadas

Doenças associadas à obesidade, como as cardiovasculares e metabólicas (diabetes e hipertensão) são um dos principais fatores de risco para os obesos, segundo afirma a cirurgiã especialista em nutrição parenteral e enteral Maria Isabel Correia, também do Hospital Semper. “Os indivíduos com comorbidades são maioria nos atendimentos de obesidade, o que sem dúvida torna a doença ainda mais perigosa”, explica.

Os desafios do tratamento

Maria Isabel ressalta ainda que muitas pessoas possuem o senso comum de que apenas uma dieta balanceada é capaz de aplacar o quadro de excesso de peso, entretanto, para o tratamento efetivo, uma junção de fatores é necessária. “A dieta é um componente essencial, mas deve ser aliada à prática de atividades físicas, de lazer e boa qualidade do sono. São esses, por sinal, os pilares que regem os princípios de uma vida saudável”, destaca, acrescentando que a vontade do paciente em mudar sua situação e o apoio de amigos e familiares é fundamental. “Fatores genéticos também são outros requisitos que devem ser levados em consideração [no tratamento], já que em famílias obesas, por exemplo, há maior probabilidade de se desenvolver a doença Nesse sentido, as terapias terão que abarcar, se possível, todo o grupo familiar”.

Ainda segundo Correia, o imediatismo e a crença de muitas pessoas em dietas milagrosas também são obstáculos para as terapias corretas e assertivas. Isso porque a doença só será tratada de maneira gradual e de forma muito bem posta por médicos e especialistas do ramo. “Quando se trata de obesidade, não existe receita de bolo e nada funciona assim tão rápido. Cada indivíduo recebe um tratamento personalizado. O imediatismo deve ser evitado.”

Lívia Pinheiro, por sua vez, compartilha da mesma opinião da colega e também acredita que o tratamento da obesidade é muito mais complexo do que apenas aconselhar o paciente a comer menos e realizar atividades físicas. “O nosso sistema nervoso central, responsável pelo controle do apetite, fica a cargo de comandar todas as sensações que os alimentos podem nos transmitir. Estamos falando de estímulos relacionados aos sentidos e também às emoções. Sendo assim, um dos problemas mais comuns para muitas pessoas que estão na luta para emagrecer com saúde, é saber diferenciar a chamada fome “fisiológica” da fome “emocional”. A primeira é aquela que sentimos naturalmente e para saciá-la, comemos com o intuito de adquirir a energia necessária que nos permita realizar as atividades diárias. Já a segunda é caracterizada pela vontade de comer relacionada às emoções, seja quando estamos alegres, tristes, ansiosos, com insônia. É nessa fome emocional que mora, em partes, o perigo, pois a partir do momento em que nos alimentamos movidos por sentimento, o risco de descontrole acaba acontecendo”, alerta a endocrinologista.

Por fim, um outro grande desafio enfrentado pelos pacientes obesos, é o preconceito que, infelizmente, vivem na sociedade. Essa, por sinal ainda insiste em tratá-los com nomes pejorativos. “A obesidade, para quem tenta vencê-la, é uma doença que fere porque sobretudo mexe com a aparência, com a autoestima. É uma doença que está exposta no corpo. Por isso, é preciso evitar os termos agressivos, pois eles não só estigmatizam como também desestimulam o paciente”, finaliza Lívia Pinheiro.