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Glândula endócrina localizada no pescoço, com menos de 20 gramas, a tireoide tem importância fundamental para o corpo humano, pois produz alguns hormônios, os chamados T3 e T4, responsáveis pela regulação do metabolismo de proteínas, carboidratos e gorduras, além de agir na função de órgãos vitais, como o coração, cérebro e fígado, e ser essencial para o nosso desenvolvimento desde a infância.
Atualmente, inclusive, existe dentro do rol de exames que são feitos no teste do pezinho, a dosagem desses hormônios. Isso porque,segundo o cirurgião de cabeça e pescoço do Hospital Semper, Lívio Cunha, uma doença capaz de afetar o recém-nascido, é justamente o hipotireoidismo neonatal, que se dá pela incapacidade de produção adequada da glândula. “Nós não vivemos sem a tireoide a não ser que façamos a reposição do hormônio tireoidiano, através de medicação”, explica.
Ainda de acordo com o especialista, a tireoide é um dos poucos hormônios, cujos receptores estão presentes em todas as células do corpo. “Quando a tireoide não funciona adequadamente, pode liberar hormônios em excesso (hiper) ou em quantidade insuficiente (hipotireoidismo)”. O quadro clínico, em ambos os cenários, conforme destaca Cunha, é variável. “O paciente com hipotireoidismo pode ter mais ganho de peso, retenção de líquido, fraqueza muscular. Já nos diagnósticos de hiper, os efeitos são opostos: perda de peso e dificuldade de ganho de massa muscular. Há ainda alterações importantes relacionadas às glândulas sudoríparas, o que causa sudorese, além de problemas cardiovasculares, como hipertensão e arritmia cardíaca, em virtude do excesso de produção do hormônio tireoidiano”.
Lívio afirma que o diagnóstico para saber se o paciente tem hiper ou hipotireoidismo é feito por meio de um exame de sangue básico, que irá mensurar a dosagem dos hormônios, o TSH e o T4 livre, e identificar alterações funcionais da glândula. “São exames baratos, que podem ser realizados em qualquer laboratório de análises clínicas e com importância fundamental na detecção dessas doenças”. Quando há uma quantidade alta de TSH no sangue, por exemplo, há a possibilidade de hipotireoidismo.
Já a causa mais comum do hipertireoidismo, de acordo com o profissional do Hospital Semper, é a Doença de Graves, distúrbio autoimune que ocorre quando o sistema imunológico da pessoa produz anticorpos que atacam os tecidos do próprio organismo. Normalmente, os ‘soldados de defesa’ danificam as células e pioram sua capacidade de funcionar. “No entanto, na doença de Graves, os anticorpos estimulam a tireoide a produzir e secretar hormônios tireoidianos em excesso no sangue”.
Assim como no hiper, no hipotireoidismo, a principal causa também é uma doença autoimune, chamada tireoidite de Hashimoto. “Nesse cenário, o organismo também gera anticorpos que atacam e destroem as células foliculares, que produzem o hormônio tireoidiano. O diagnóstico de ambas as doenças também se dá por meio da dosagem desses
anticorpos no sangue”, pontua.
Lívio revela que as doenças da tireoide, de maneira geral, são bem mais recorrentes em mulheres, inclusive elas são, segundo ele, maioria nos casos de câncer na glândula. “Obviamente isso tem relação com questões hormonais específicas das pessoas do sexo feminino.”
O tratamento das doenças tireoidianas, conforme Cunha, é feito com medicações. O hipotireoidismo é tratado com a reposição do hormônio tireoidiano. Já no caso do hipertireoidismo, há outras modalidades de terapia, que envolvem não só medicação, como o uso de iodo radioativo. Dependendo do caso pode ser necessário a intervenção cirúrgica. “A cura vai depender da causa, mas se nós levarmos em conta que as principais são as doenças autoimunes, elas infelizmente não vão embora. O paciente apenas faz o tratamento para controlá-las”.
O especialista também ressalta que não há métodos preventivos estabelecidos para as duas principais causas da enfermidade, hoje. “Há cerca de 50, 100 anos, a principal disfunção da tireoide era o hipotireoidismo, provocado principalmente pela ausência do iodo na alimentação, um sal fundamental na confecção do hormônio tireoidiano. Porém, de lá para cá, as leis da indústria alimentícia determinaram que este utensilio tão usado em nossa cozinha deve ser vendido já iodado. Logo esse já não é mais um problema”.
Por fim, Lívio ainda faz um alerta sobre outro problema relacionado à tireoide: o câncer na região, que geralmente se manifesta com um caroço no pescoço. “Na maioria das vezes a pessoa sente o crescimento e, ao perceber essa mudança, é importante procurar ajuda médica, seja por meio de uma consulta com o endocrinologista ou com o cirurgião de cabeça e pescoço”. O médico também pontua que mais de 90% dos nódulos tireoidianos felizmente são benignos, porém sempre que identificados devem ser investigados para que seja tomada a conduta adequada. “O câncer não é rastreado pelo já citado exame de sangue, mas o exame, capaz de medir a dosagem dos hormônios TSH e T4 livre, é o primeiro passo para saber se está tudo sob controle com esta importante glândula vital”.
Lívio Cunha, Cirurgião de Cabeça e Pescoço do Hospital Semper