Central de Atendimento


Mulheres e jovens são os que mais sofrem de esgotamento mental

Pesquisa do Datafolha, realizada em agosto, revela que os brasileiros a partir dos 16 anos são maioria no público que vivencia situações de estresse e cansaço por mais de um dia. O levantamento contou com a participação de 2.098 pessoas, em 130 municípios de todas as regiões do país. Os dados fazem parte da Campanha “Bem Me Quer, Bem Me Quero: Cuidar da Saúde Mental é um Exercício Diário”, alusiva ao ‘Setembro Amarelo’, encomendado pela Abrata e Viatris.

Na pesquisa, cerca de 53% dos participantes responderam que passaram ou convivem com alguém que passou por um período de cansaço e desequilíbrio emocional extremos, seguidos de uma sensação de desgaste físico e mental por mais de um dia. O problema afeta, na maior parte, as mulheres (57%). Outro fator de destaque é que na faixa etária dos jovens de 16 a 24 anos, 63% vivenciaram situações de estresse e cansaço constantes.

Acredito que as mulheres podem ser mais vulneráveis ao problema, justamente por ainda vivermos em uma sociedade machista e patriarcal. Em pleno século XXI, muitas de nós continuamos sendo questionadas quanto às nossas reais competências e habilidades. Somos questionadas em relação até às nossas escolhas. Os nossos corpos, constantemente são violados, desrespeitados. Isso sem falar que o caminho para a mulher se sobressair profissionalmente acaba, em muitos casos, sendo mais difícil. Não que ela precise provar para ninguém seus potenciais. Mas não dá para negar que, muitas vezes, nossas capacidades ainda são colocadas em xeque. Tudo isso afeta, indiscutivelmente, a saúde mental.

Quanto ao alto percentual de jovens que afirmam ter vivenciado situações de estresse e cansaço por mais de um dia, penso que uma das explicações para este cenário está atrelado à massificação das mídias digitais, que se usadas de forma nociva, podem causar impactos à saúde mental. Hoje, muitos [jovens], inclusive, pautam suas vidas pelas redes sociais e acreditam que só serão felizes se, assim como os ‘amigos virtuais’, ostentarem na web as viagens, os shows, as roupas grifadas dos artistas, o que é um grande equívoco. É preciso compreender que o que vemos no Instagram é uma parte muito pequena das nossas vidas. Ninguém posta dor, ninguém posta os boletos vencidos, as carências, as fragilidades. Então é arriscado demais comprar a ideia de felicidade plena vendida em um Story de 15 segundos, quando sabemos que a realidade, na prática, não é assim.  

Quando o estresse ‘aparece’ no corpo

 Por fim, quero deixar claro que todos nós somos suscetíveis ao estresse, já que ele é uma condição inerente ao ser humano e está associado a como lidamos com nossas emoções e estímulos recebidos diariamente. Temos desafios na vida, momentos difíceis e tristes. Porém, a partir do momento em que algo tão intenso e duradouro provoca sintomas físicos e emocionais persistentes, como palpitações, sensação de angústia e/ou tristeza, sudorese excessiva, diarreia, constipação, compulsões de qualquer natureza, impaciência, irritabilidade, insônia, perda de apetite, entre outros males, é fundamental procurar ajuda, antes que o estresse evolua para outras condições clínicas.

Para tratar de forma responsável essa condição, um passo importante é a aceitação do paciente. A pessoa deve compreender que precisa de ajuda e que precisa mudar. Nesse sentido, melhorar o estilo de vida é fundamental, além de incluir exercícios físicos e lazer na rotina diária. Psicoterapia também é aliada no processo e, se necessário, medicações. Não posso deixar de citar a importância de contar com uma rede de amigos. Somos seres sociais e, portanto, precisamos de acolhimento e carinho, principalmente quando enfrentamos dores emocionais.

                                                                                                                                       Janaína Pacheco, neurologista