Central de Atendimento


Minas teve quase 5 mil casos de hanseníase nos últimos anos

Entre 2017 e 2021, Minas Gerais teve 4.856 novos casos de hanseníase, segundo dados do último boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde de Minas, divulgado no ano passado. Os números, apesar de aparentemente pequenos e com tendência decrescente de notificação, acendem um alerta quando se leva em consideração as estatísticas nacionais. Isso porque o Brasil é o segundo país no mundo na incidência da enfermidade, com 28.660 casos, atrás apenas da Índia (120.334 casos), de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), de 2019. Ainda conforme o boletim epidemiológico enviado à OMS, somente em 2021 nosso país registrou 15.155 novas notificações da doença.

Considerada a doença infecciosa mais antiga que conhecemos, a hanseníase é transmitida por uma bactéria chamada Mycobacterium leprae, e tem sintomas muito variados, cuja existência depende de como o organismo reage à infecção. O paciente pode ter pequenas manchas na pele de diversos tipos: avermelhadas, marrons, esbranquiçadas, além daquelas que afetam a sensibilidade, e também alterações táteis. Podem aparecer ainda caroços no corpo, dolorosos e inflamados, dores articulares, inchaço nas mãos e pés. Nos olhos, queixas de ressecamento ocular são frequentes. Há também os sintomas neurais, como sensação de “formigamento” em braços e pernas.

O contágio ocorre por meio de um contato próximo, íntimo e prolongado, com alguém infectado, portanto locais onde há grande concentração de pessoas, como prisões ou domicílios onde moram muitas famílias, podem oferecer mais riscos. Os estudos mais aceitos é que, assim como outras microbactérias, a contaminação ocorre por meio de gotículas liberadas no espirro, tosse por pessoas doentes, ou seja, pelas vias aéreas.

Entretanto, o intervalo entre a contaminação e a manifestação dos primeiros sintomas – conhecido como período de incubação – pode ser de algumas semanas há vários anos, podendo ser superior a até mesmo uma década. Isso porque a M. leprae se replica muito lentamente.

Para diagnosticar a hanseníase, o método mais comum é a biópsia das lesões epiteliais. Novos testes moleculares (como o PCR) também vêm ganhando espaço nos novos diagnósticos. Uma vez confirmada a enfermidade, o tratamento é feito com antibióticos, que dependendo da classificação da moléstia, poderá estender-se por seis a 12 meses.

O mais importante a se ressaltar sobre esse assunto é conscientizar a população a extirpar os estigmas que ainda existem relacionados à doença. No passado falava-se muito sobre a lepra, que provocava mutilações severas nos pacientes. Porém, vale ressaltar que isso acontecia em virtude de uma lesão crônica, em uma época onde ainda nem existiam antibióticos. Com isso, criou-se um preconceito em torno da doença, que nada tem a ver com a hanseníase atual.

Gostaria de reforçar também a importância da população não negligenciar os riscos da doença e procurar um especialista em caso de lesões duradouras na pele. A hanseníase tem cura. Mas para isso, o diagnóstico precoce é muito importante para que o paciente consiga vencer a doença sem sequelas. Por outro lado, quando não tratada, pode evoluir para quadros mais graves, com perda de sensibilidade e deformidade locais, além de aumento da lesão.

                                                    Leandro Curi – infectologista